Artigo: Acolhimento psicológico para professores

Acolhimento psicológico para professores

Muito se falou nos últimos anos, especialmente com a BNCC, sobre a formação socioemocional dos estudantes e a saúde mental das crianças e jovens. Mas é importante também ter um olhar atento para aqueles que estão na linha de frente — os professores.

Para trazer mais informações sobre esse assunto, entrevistamos a psicóloga clínica Camila Moura, que atua com ênfase em cuidado e gestão de negócios. Foi uma das responsáveis por desenvolver o projeto “Acolhe Você” que teve como principal objetivo acolher os professores da rede pública durante a pandemia. Também atua com a comunicação da ONG Labor Educacional e na Empreendedora na Cway Consultoria e Comunicação.

Adriana Castro: Como os diretores e coordenadores podem ter uma postura de maior acolhimento psicológico com os professores?

Camila Moura: A forma como os profissionais da educação se relacionam no ambiente de trabalho faz toda a diferença para a produtividade, bem-estar e saúde mental de cada sujeito. Os diretores e coordenadores exercem papéis importantes e, diante de suas posturas, podem contribuir para que o ambiente escolar e da equipe seja mais benéfico e acolhedor aos professores.

É interessante que os diretores e coordenadores tenham um olhar empático e sensível sobre os professores, pensando em proporcionar mais espaços de fala, momentos de trocas e diálogos. É preciso que eles compreendam a fundo os problemas cotidianos e pensem em soluções práticas. Outro ponto importante é que esses profissionais estejam abertos a ouvir as demandas de cada profissional sem julgamento e de forma ética.

Dessa forma, os professores podem se sentir seguros para falarem sobre as suas dificuldades, e buscar melhorias que impactam positivamente a vida dos alunos e das equipes.

AC: Qual a diferença entre práticas de acolhimento psicológico e as outras práticas de atendimento como terapia e terapia em grupo?

CM: O acolhimento psicológico é uma prática breve, que une um grupo de pessoas com demandas similares. A prática visa proporcionar melhorias no enfrentamento de dificuldades que fazem parte do presente de forma pontual e objetiva.

A terapia, tanto individual como em grupo, é um processo mais longo que leva em consideração todo o histórico de vida do paciente de forma aprofundada. Ela cuida das demandas do presente, de acontecimentos do passado, variando de acordo com cada abordagem utilizada pelo profissional. A terapia em grupo une pessoas com demandas distintas e semelhantes.

Todas as práticas são funcionais no contexto escolar, elas devem ser utilizadas de acordo com as necessidades dos sujeitos, devem visar solucionar os problemas do ambiente, tornando a escola um lugar seguro, empático e acolhedor.

AC: Quais são, hoje, as principais queixas dos professores que exigem um maior acolhimento?

CM: As principais queixas dos professores são devido à falta de motivação no ambiente de trabalho. Eles se queixam da falta de participação dos alunos, da desvalorização da classe e de um ambiente de trabalho pouco colaborativo.

  • Falta de motivação e valorização;
  • Sentimento de cansaço e exaustão;
  • Dificuldade de adaptação às novas ferramentas de ensino;
  • Falta de engajamento dos alunos durante as aulas online;
  • Medo e insegurança sobre a vida profissional.

O acolhimento psicológico é uma prática que surgiu em meados da década de 70 no Brasil, e desde a chegada da pandemia, essa ferramenta ganhou mais ênfase, principalmente no ambiente escolar.

A prática pode ser considerada uma técnica de cuidado eficiente, que oferece soluções pontuais e promove melhorias na rotina dos estudantes e profissionais. Ela é importante e necessária para que o sujeito se sinta parte da escola, tenha voz ativa durante o seu processo de ensino-aprendizagem, engaje com os conteúdos, se sinta seguro e se reconheça como protagonista de sua própria história.

A escola é um espaço de construção social, desenvolvimento e conexão. Ela executa um papel importante na vida dos sujeitos, logo precisa oferecer recursos que promovam saúde e bem-estar para todos envolvidos.

AC: Lidamos com pessoas diversas, como ter sensibilidade para identificar essas diferenças e conseguir acolher os diferentes?

CM: A sensibilidade é um instrumento valioso, ainda mais em uma sociedade que encontra-se cada vez mais competitiva, dentro da bolha virtual onde a vida é simples, bonita, feliz e completa. A sensibilidade nos torna sujeitos mais resilientes, empáticos e mais humanos.

Para identificar as diferenças que nos cercam, é preciso ouvir o outro com atenção, deixar os julgamentos de lado e dar atenção ao que está sendo dito por meio das palavras, gestos, olhares e ações.

AC: Qual a forma de introduzir esse tema no ambiente escolar?

CM: Por meio de rodas de conversas, da arte, dos projetos educacionais, de palestras e da orientação com profissionais da área da saúde.

AC: E qual o caminho para criar uma cultura de acolhimento psicológico nas escolas?

CM: O caminho é a humanização, a sensibilização e a colaboração de todos que fazem parte da educação e do ambiente escolar. É preciso colocar os profissionais e alunos para exercerem os papéis de protagonismo, trabalhar temáticas que cercam o cotidiano e proporcionar espaços colaborativos, diversos e feitos para pessoas que têm limites, sonhos e objetivos.

AC: Existem práticas simples que podem contribuir para o manejo do estresse dos professores no dia a dia nas escolas?

CM: Existem! Essas práticas contam com a contribuição da equipe gestora, de profissionais da saúde e da comunidade:

  • oficiais psicossociais;
  • projetos educacionais;
  • rodas de conversa;
  • palestras;
  • musicoterapia;
  • momento de relaxamento.

AC: E como um professor pode contribuir para o acolhimento psicológico de um colega? 

CM: Para ajudar o próximo é preciso estar bem consigo mesmo e se sentir em boas condições para acolher, certo? Por isso, o ideal é que a equipe educacional esteja com a saúde mental em dia, para que assim eles possam se observar no dia a dia, compreendendo as necessidades da equipe, as particularidades de cada sujeito e saber a hora de agir e como fazer isso da melhor forma. 

Oferecer acolhimento é se dispor, se doar e colocar o sofrimento do outro por alguns minutos em primeiro lugar. Para fazer isso ,é necessário estar bem, sentir-se pronto para ouvir de forma colaborativa e sem pegar a dor do outro para si mesmo.

Adriana Castro é formadora da ONG Labor Educacional