Nós falamos Pretuguês
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Pretuguês
Você já ouviu falar no conceito do "pretuguês"? Pois saiba que essa é a língua que nós falamos. Eu, você e todos os brasileiros. Este termo foi cunhado pela intelectual Lélia Gonzalez para se referir à influência que os idiomas de origem africana tem no português falado no Brasil.
Antes de me aprofundar na teoria, eu vou começar dizendo para você que sempre criticou quem fala "Framengo", ao invés de "Flamengo", que essa pessoa não fala errado. Ficou confuso? Eu explico!
Quando as pessoas escravizadas sequestradas de África chegaram em nosso país, elas trouxeram também suas culturas. A maior parte dos negros escravizados que foram trazidos para o Brasil eram de etnias banto (Congo, Benguela, Ovambo, Cabinda, Angola, Macua, Angico etc.). O povo bantu tem um tronco linguístico com mais de 600 línguas e, em diversos desses idiomas bantu, não existe a letra L, por isto a substituição desta consoante pela letra R.
Ou seja, trocar o L pelo R não é sobre falar errado, é sobre uma herança ancestral. Isso sem falar na quantidade de palavras africanas que usamos até hoje como: moleque, quiabo, fubá, caçula, angu, dengoso, quitute, berimbau, maracatu, cafuné, bunda, muvuca, entre tantas outras.
Em seus estudos, Lélia Gonzalez analisa justamente a formação da identidade cultural brasileira por meio das palavras e formas de falar provenientes de idiomas africanos. Esse nosso jeitinho cantado de falar e a dupla negação "eu não vou, não", "não quero, não", também é, segundo Lélia, uma herança dessa forma de falar africana. Assim como a redundância "subir pra cima", "descer pra baixo".
E quem são as pessoas que você conhece que fala "framengo", "pobrema"? São pessoas que tiveram mais ou menos acesso à educação formal? Historicamente, no Brasil, quem teve mais acesso à educação formal foram os negros ou os brancos?
Então, na próxima vez que você vir uma pessoa falando "pobrema", pense com um olhar decolonizado da educação. Talvez, o que ela tenha aprendido ao longo de sua vida tenha sido transmitido mais através da oralidade, e não dos bancos das escolas tradicionais. A oralidade é uma ancestral.