Nós e eles. Talvez o antagonismo tenha sido a minha primeira impressão sobre esses dois pronomes.  Passei um longo período da minha vida pensando quem eram eles, quem eram nós e principalmente quem eu era. 

Os nós bem amarrados pela escravidão, apesar do esforço de muitos, ainda deixam marcas que nos lembram de esquecer quem somos, quem éramos, mas jamais nos fazem esquecer das correntes que um dia carregamos. 

Hoje eu não quero que essa coluna fale da dor, fale do desafio, fale do lugar difícil ou solitário. Eu não quero gritar pelos direitos, eu não quero dizer que esse lugar também é meu, eu quero apenas descansar no que sou e lembra do “nós”, quero falar desse nós que subverte a lógica e que quebra paradigmas.  

Minha história é repleta de nós. São os nós dos meus cabelos que fizeram eu me entender como mulher negra e foram os nós dos encontros da vida que me formaram. Na caminhada de encontrar quem sou, me encontrei no meio de nós. Me encontrei na força de um coletivo que existe, resiste, persiste, que é duro na queda. Me encontrei nas palavras de Ana Maria Gonçalves, no silêncio de Maya Angelou, na força de Angela Davis, na ciência de Silvio Almeida, na resistência de Conceição Evaristo e no sorriso de minha avó. Me encontrei no abraço daquelas que dividiram comigo a sua história e compartiram comigo o peso e me permitiram – me lembraram- de parar de correr, de sentar, de chorar, de ser humana. 

Entre os nós eu sou. Não existe Eduarda sem o coletivo que me suporta. A cada novo passo que dou, eu me torno um passo na caminhada de todos esses. A cada passou que dou, a cada sorriso com batom vermelho que dou para o mundo que insiste em me fazer esquecer do que sou, eu sou um passo na caminhada deles.  

Neste novembro negro eu convido que todos relembrem a sua trajetória, relembrem os passos, lembrem porque começaram, lembrem que caminhada estão seguindo, que passos estão representando, lembrem que mesmo que você olhe para o lado e pareça que está sozinho, existe uma legião caminhando por perto de você. 

Eu sou o encontro do nós, eu sou porque nós somos.