Lançamento do Kariri Criativo no Ceará impulsiona políticas nacionais para a economia criativa
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Fundação Roberto Marinho participa de agenda com a nova Secretaria de Economia Criativa nos dias 7 e 8 de agosto; Claudia Leitão comenta os planos da pasta para impulsionar o setor

Nos dias 7 e 8 de agosto, a região do Cariri, no Ceará, recebe o lançamento do projeto Kariri Criativo, piloto territorial do programa Nordeste Criativo, que também será apresentado no evento. A iniciativa integra a Política Nacional de Economia Criativa, que busca mobilizar e articular agentes do setor, promover políticas públicas e incentivar a produção, comercialização e consumo de bens e serviços criativos para fomentar o desenvolvimento sustentável.
Com uma programação extensa, o evento contará com painéis sobre acesso a financiamento, responsabilidade ambiental, educação, qualificação profissional e fortalecimento comunitário, além da apresentação do programa Rouanet Nordeste — uma linha da Lei de Incentivo à Cultura voltada especificamente para a região.
No primeiro dia de atividades, o secretário-geral da Fundação Roberto Marinho, João Alegria, participa da mesa “Como a criatividade transforma o aprender e o ensinar?” às 14h30. Ele também estará presente no “Encontro de Organizações Educacionais voltadas à Formação para a Cultura e Economia Criativa”, representando a co.liga, no dia 8, às 11h30.
A cultura, a criatividade e a ludicidade são pilares transversais dos projetos educacionais da Fundação Roberto Marinho. Em parceria com a Organização de Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura no Brasil (OEI), a Fundação desenvolve a co.liga, uma escola digital e gratuita de economia criativa que, além de ofertar cursos, conecta atores locais, valoriza identidades e cria oportunidades de experimentação profissional. A co.liga tem o Grupo Motiva, por meio de seu instituto, como parceiro mantenedor.
Para Alzira Silva, supervisora de inclusão produtiva da Fundação Roberto Marinho, o fortalecimento da economia criativa no Brasil favorece a ampliação de oportunidades de educação, trabalho e renda. “A política Brasil Criativo é estratégica para garantir que as juventudes tenham condições de transformar suas realidades. Ao reconhecer a diversidade cultural, valorizar os territórios e estimular a inovação, aponta a economia da cultura e da criatividade como um dos caminhos mais promissores para o futuro do trabalho. Na co.liga, apoiamos diretrizes que ampliam o acesso à formação profissional, com foco em competências técnicas, digitais, empreendedoras e socioemocionais, incentivando a participação de jovens, especialmente mulheres, pessoas negras, indígenas e LGBTQIAPN+. Acreditamos na força das redes colaborativas para desenvolver talentos e oportunidades nas comunidades, e fortalecer a economia criativa como pilar de desenvolvimento sustentável e inclusão produtiva”.
O lançamento do Kariri Criativo acontece no Centro Cultural do Cariri – Crato, a partir das 9h. A programação completa está disponível no site oficial, e parte das atividades será transmitida ao vivo, em link divulgado pela organização. A iniciativa abrange nove municípios — Juazeiro do Norte, Crato, Barbalha, Missão Velha, Nova Olinda e Santana do Cariri — localizados no centro da Bacia da Chapada do Araripe, candidata a Patrimônio da Humanidade pela Unesco.
Fortalecimento da economia criativa no Brasil
O evento ocorre em um momento de renovado fortalecimento da economia criativa no país, marcado pela recriação, em maio deste ano, da Secretaria de Economia Criativa pelo Ministério da Cultura, extinta desde 2015. A professora e pesquisadora Claudia Leitão, nome reconhecido na área, foi indicada para assumir a secretaria pela segunda vez. Ela participou do desenvolvimento do plano pedagógico da co.liga na fase de concepção da escola, há quase cinco anos.
Claudia Leitão conta que a política nacional de economia criativa, denominada Brasil Criativo, será lançada oficialmente em setembro, em São Paulo. Para ela, a iniciativa surge em um cenário de maior reconhecimento do papel da cultura e da criatividade para o desenvolvimento social e econômico do país. O Brasil, historicamente reconhecido como exportador de matérias-primas e commodities, tem agora a oportunidade de ampliar sua produção de bens e serviços, incorporando o potencial criativo nacional como motor de crescimento socioeconômico.
Políticas públicas para economia criativa buscam garantir o direito à criatividade — um direito cultural e, portanto, um direito humano
Claudia Leitão, Secretária de Economia Criativa
Segundo ela, um dos objetivos desse marco legal é dar mais estrutura ao setor, com oportunidades de formação e qualificação para os profissionais que atuam nas áreas da criatividade e da cultura.
Ela destaca que a rede criativa abrange muito mais que artistas: inclui iluminadores, cenógrafos, técnicos de som, gestores de marketing, produtores audiovisuais, além dos mestres da cultura tradicional, como o artesanato de barro. Ao mesmo tempo, novos trabalhos surgem com o empreendedorismo jovem no setor, muitas vezes sem formação específica.
Para a secretária, um dos maiores desafios será acompanhar as rápidas transformações dos setores criativos e preparar especialmente os jovens para inserção profissional qualificada e digna. Ela reforça que estudos recentes confirmam a força e o potencial do setor no Brasil, justificando a recriação da Secretaria.
O Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil, estudo publicado este ano pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), dimensiona a relevância do setor: a participação do PIB Criativo na economia brasileira subiu de 2,69% em 2018 para 3,59% em 2023 — o equivalente a R$ 393,3 bilhões. Além disso, cerca de 1,3 milhão de profissionais estavam formalmente empregados em 2023, aumento de 6,1% em relação a 2022, crescimento superior ao do mercado de trabalho como um todo (3,6%) no mesmo período.
Segundo Leitão, o Brasil tem condições de ocupar posição de liderança na produção e circulação de bens culturais. “Nós, países do Sul Global, somos territórios onde natureza e cultura são pujantes. Esse é o nosso soft power”, avalia. O conceito remete ao poder simbólico que fortalece a presença global do país, gerando admiração, identificação e riqueza.
Os planos para a economia criativa
O Kariri Criativo é o projeto-piloto de um movimento nacional que pretende identificar e fortalecer territórios criativos em todo o país. Segundo a secretária, nos próximos dois a quatro anos, o programa vai trabalhar para compreender e estruturar o ecossistema criativo local: “Não posso falar de território criativo sem falar de ecossistema. É preciso tornar virtuosas as dinâmicas de produção, distribuição e comercialização, para que aquilo que se cria movimente a economia e gere trabalho e renda locais”.
Para implementar essas ações, a Secretaria planeja retomar o Observatório Brasileiro de Economia Criativa, com estudos e indicadores que permitam conhecer melhor o potencial e os desafios de cada território. “Com a volta da Secretaria, esperamos construir uma rede de territórios criativos e uma rede de observatórios ligados à pasta. Esse levantamento é fundamental para a formulação de políticas públicas, pois permite entender o potencial e as necessidades de cada região. É comum que territórios muito ricos culturalmente sejam muito pobres economicamente — e é esse desafio que buscamos superar”, conclui Claudia Leitão.
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Serviço
Data: 7 e 8 de agosto, a partir das 9h;
Local: Centro Cultural do Cariri, Crato (CE);
Programação, inscrição e acesso à transmissão ao vivo: https://www.kariricriativo.com/home#programacao