Notícia: Festival LED movimenta o MAR com oficinas sobre cultura, diversidade e tecnologia na educação

Festival LED movimenta o MAR com oficinas sobre cultura, diversidade e tecnologia na educação

Com atividades práticas e temáticas como cultura antirracista, cinema indígena e jogos educativos, evento destaca a importância de novas abordagens de ensino

Grupo de cerca de 20 pessoas posa sorridente para a foto dentro de uma sala colorida com paredes decoradas com imagens e elementos gráficos. Ao fundo, há um painel com as palavras “co.liga” e uma televisão ligada. Algumas pessoas seguram cartazes do Festival LED – Luz na Educação. As mesas ao redor estão organizadas com papéis, marcadores e materiais de oficina. Todos parecem entusiasmados e engajados, transmitindo um clima de colaboração e celebração.
Participantes da oficina "Do Insight ao Verbo: prepare o seu projeto para o LED!”. Foto: Jaqueline Suarez

A 4ª edição do Festival LED – Luz na Educação, realizada no Rio de Janeiro, reuniu milhares de pessoas na Praça Mauá durante dois dias de intensa programação. Neste ano, o Museu de Arte do Rio (MAR) foi o espaço dedicado ao aprofundamento das discussões. Além dos painéis, o local também recebeu as oficinas do LED CRIA. Ao todo, foram realizados 15 encontros com cerca de 400 participantes nos dias 13 e 14 de junho. 

Diversos temas que fazem parte do cotidiano educacional brasileiro foram abordados, como os desafios socioemocionais e ambientais nas escolas, segurança digital de crianças e adolescentes, uso de ferramentas tecnológicas na educação, educação midiática, cultura antirracista, entre outros. A curadoria das oficinas foi realizada pela Fundação Roberto Marinho. 

O professor Plínio Xavier, que vive no interior de Pernambuco, viajou até o Rio de Janeiro para participar do festival. Após conhecer os projetos finalistas do Prêmio LED deste ano — apresentados durante o evento —, ele se sentiu motivado a inscrever uma iniciativa própria na próxima edição. Por isso, participou da oficina “Do Insight ao Verbo: prepare o seu projeto para o LED!”, a última do LED CRIA nessa edição. 

“A formação me levou a revisitar as dificuldades do meu território e pensar em como posso transformá-las em um projeto com os estudantes. Foi apresentado um passo a passo para orientar essa construção”, explicou o professor. “Saio daqui com muita vontade de colocar as ideias em prática e contribuir para melhorar a vida dos meus alunos e da comunidade escolar”, completou. 

Plínio também participou da oficina “Sambavivências: Identidade, Antirracismo e Educação” e já planeja sua primeira ação: “Vou montar uma formação com os meus estudantes para discutir relações étnico-raciais a partir do samba-enredo e de outros elementos do Carnaval”.

Duas mulheres estão sentadas lado a lado em cadeiras azuis, concentradas em uma atividade manual. Uma delas segura um pedaço de tecido verde brilhante, enquanto a outra utiliza uma tesoura para cortá-lo cuidadosamente. Sobre a cadeira ao lado, há fios vermelhos, uma corrente metálica e uma folha de papel, sugerindo uma oficina de artesanato ou moda. A mulher de tranças veste uma jaqueta jeans e a outra, com cabelos cacheados e óculos, observa atentamente o processo. O ambiente é de colaboração e aprendizado
Participantes da oficina “Sambavivências: Identidade, Antirracismo e Educação”. Foto: Amanda Nunes

A oficina foi promovida pelo programa A Cor da Cultura, uma iniciativa da Fundação Roberto Marinho voltada ao reconhecimento e valorização das culturas negra e indígena. O projeto surgiu a partir das Leis nº 10.639/03 e nº 11.645/08, que estabelecem a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nos currículos escolares e na formação docente, tanto na rede pública quanto na privada. 

Conduzida pela professora e carnavalesca Thayssa Menezes, a atividade destacou o potencial educativo do Carnaval e suas manifestações: “Dá para beber muito na fonte do que as escolas de samba têm para ensinar às escolas formais, e vice-versa. Sem hierarquizar saberes. É aprender junto e não hierarquizar esses saberes, entendendo que nossas crianças que estão nas escolas formais também vivem o samba em seus territórios”, comentou Thayssa.

A partir da mesma iniciativa, foi realizada a oficina “Cinema Indígena como ferramenta pedagógica”, mediada por Alberto Alvares, professor e cineasta da etnia Guarani Nhandewa. “O cinema, especialmente no território Guarani, ajuda a refletir sobre como estudar e ensinar nossa própria cultura. Ele permite que narremos nossa história na sala de aula, conectando disciplinas como português, matemática e história à nossa realidade e memória. É uma forma de garantir que essa história não se perca”, afirmou. 

Além de registrar e ampliar as vozes indígenas, Alberto destacou o papel do cinema na construção de novas representações. 

“O cinema indígena nos permite escrever nossa própria história. Somos um povo da oralidade, e a câmera se tornou um instrumento fundamental — ela mostra que vivemos entre aldeia e cidade, que temos advogados, professores, cineastas. Isso muda a forma como a sociedade nos vê e como nossa cultura é tratada nas escolas”. 

Os saberes dos povos originários também foram destaque na oficina “Aprender a conviver: a importância de prevenir conflitos, enfrentar os desafios socioemocionais e ambientais nos contextos educativos”. O educador indígena Dzoodzo Baniwa foi um dos mediadores: “A filosofia do Bem Viver traz o conceito de pertencimento ao território. A aprendizagem precisa partir das necessidades e do contexto local. Por isso, levamos esse debate para dentro das escolas, entendendo que o espaço escolar é transformador”, explicou. 

Baseada na experiência do projeto Maleta Conviver, do Canal Futura, a atividade propôs reflexões sobre convivência no mundo contemporâneo e a valorização de saberes locais: “Essa abordagem contribui para formar estudantes mais conscientes de suas realidades, promovendo uma educação que dialoga com questões culturais, ambientais e sociais”, concluiu Dzoodzo.

Tecnologia, IA e mídias digitais na educação  

Os múltiplos impactos das tecnologias na educação foram o tema de várias atividades realizadas durante o Festival LED — dos potenciais riscos aos benefícios que podem ser gerados dentro da sala de aula. 

A líder de projetos da Fundação Roberto Marinho, Priscila Pereira, mediou uma oficina sobre segurança e proteção digital, baseada no projeto Crescer sem Violência, do Canal Futura, e na experiência da equipe de segurança digital da Globo. 

“Fizemos um panorama das novas formas de violação de direitos no ambiente digital, especialmente envolvendo crianças e adolescentes no contexto escolar. Muitas dessas violências aparecem disfarçadas de brincadeiras. Apresentamos também materiais do Crescer sem Violência e estratégias de segurança online desenvolvidas recentemente pela Globo, como alternativas para enfrentar esse problema com o apoio da escola, da família e da comunidade”, destaca Priscila. 

Cerca de 20 pessoas participam de uma roda de conversa em uma sala ampla, com iluminação natural e paredes brancas. Três pessoas — duas mulheres e um homem — estão em pé ao centro, conduzindo a atividade. À direita e à esquerda, os participantes estão sentados em cadeiras azuis, prestando atenção ou anotando. Ao fundo, um painel roxo exibe a frase “Compartilhar conhecimentos e construir futuros” ao lado da marca “co.educa”. Um telão e banners também fazem parte da ambientação. O clima é de escuta ativa, tro
Mediadores e participantes da oficina "Crescer sem violência - segurança e proteção digital". Foto: Amanda Nunes

Segundo ela, tem se observado que a tecnologia — especialmente a inteligência artificial e o uso de mídias sociais — tem contribuído para o aumento de violações de direitos de crianças e adolescentes. Priscila enfatiza a importância de que escola e família busquem informações. 

“É possível encontrar conteúdos sobre o problema e acessar materiais que podem auxiliar educadores e familiares na prevenção e no enfrentamento de violências digitais contra crianças e adolescentes”.

Técnicas para criar comandos e refletir sobre os riscos no uso da inteligência artificial foram abordadas na oficina “Conversando com a I.A. sem passar raiva: um guia para prompts eficazes”. “A gente usa muito a IA e, às vezes, nem percebe que está compartilhando informações sensíveis. A formação ajudou a entender como montar prompts, como interagir com a ferramenta e, principalmente, a ter mais consciência sobre a origem das informações e o que fazer com elas”, destaca a publicitária Geórgia Lima, participante da atividade. 

A professora de educação infantil Síntyque Lemos participou do Festival LED em busca de novas ideias para aplicar em sala de aula. Ela assistiu à oficina sobre o uso de dados no acompanhamento da aprendizagem. “Achei muito interessante porque acompanhar a aprendizagem dos alunos no dia a dia não é simples. Às vezes, eles se interessam mais por uma atividade que teve alguma metodologia específica — e eu não anotei isso. O tempo passa e eu esqueço. Mas poderia usar essa mesma metodologia em outro tema para tentar recuperar o engajamento do estudante”, avalia. 

Jogos como ferramenta pedagógica 

A gamificação é outro tema relevante no debate educacional da atualidade. A oficina conduzida por Andreza Delgado e Fernanda Cintra abordou os jogos como estratégia educativa. 

“Queríamos mostrar que o jogo não é um bicho de sete cabeças. Os participantes foram divididos em grupos e criaram seus próprios jogos para aplicar em sala de aula. Foi uma vivência prática, mostrando como a jogabilidade pode ser aliada ao conteúdo pedagógico, sem depender da lógica da recompensa”, apontou Andreza, cofundadora do Instituto PerifaCon. 

Ela contou ainda que a organização já ativou cerca de 50 ludotecas em São Paulo, em parceria com escolas, ONGs e unidades da Fundação Casa. “A partir dessa experiência, vamos ativar novas ludotecas no Rio de Janeiro com os próprios participantes. Já ensinamos como criar jogos e, agora, também vamos viabilizar materiais para que possam ser aplicados em outros espaços. Nosso objetivo é ampliar essa formação e fortalecer a educação por meio do lúdico”, conta. 

Sobre o Festival LED 

Realizado pela Globo e pela Fundação Roberto Marinho, em parceria com a Editora Globo e com patrocínio da Fundação Bradesco, o Festival LED promove experiências, trocas e diálogos que iluminam práticas educativas. O evento integra o Movimento LED – Luz na Educação, iniciativa que identifica, valoriza e divulga ações transformadoras na área educacional.

Em uma sala de aula bem iluminada, com paredes brancas e cadeiras amarelas, uma mulher de cabelos curtos e grisalhos, vestindo camiseta preta e calça bege, conduz uma apresentação em pé, gesticulando enquanto fala. À sua esquerda, uma televisão exibe um slide com fundo roxo e textos em branco. Os participantes, cerca de 20 pessoas, estão sentados em grupos em torno de mesas brancas, atentos ou fazendo anotações. Ao fundo, um quadro branco contém uma lista escrita à mão. O ambiente transmite concentração e e
Foram realizadas 15 oficinas durante o Festival LED, todas com a curadoria da Fundação Roberto Marinho. Foto: Amanda Nunes