Notícia: Estudantes da Educação de Jovens e Adultos falam sobre expectativas e preparação para o Enem

Estudantes da Educação de Jovens e Adultos falam sobre expectativas e preparação para o Enem

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Além da possibilidade de acesso à universidade, exame marca o reencontro de muitos estudantes com a própria autoestima e com os sonhos que pareciam distantes

Um grupo de dez mulheres sorridentes, todas vestindo becas de formatura pretas com estolas brancas e faixas azuis na cintura. Elas também usam o capelo preto de formatura. A maioria segura o diploma enrolado (canudo) para o alto em um gesto de celebração. No centro do grupo, uma mulher, que parece ser a professora ou coordenadora, está vestida com uma camisa azul-claro vibrante e calças pretas, em contraste com as formandas. O fundo é uma parede externa de metal em tons de branco e azul. A foto transmite al
Jovens e adultos da Escola da Fundação Roberto Marinho, polo Maré. Foto: Amanda Nunes

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) é a principal porta de entrada para o ensino superior no Brasil. As provas, que acontecem esse ano nos dias 9 e 16 de novembro, têm mais de 4,8 milhões de inscritos. Embora a maioria dos candidatos seja formada por adolescentes que estão concluindo o ensino médio, o exame também acolhe jovens, adultos e idosos que retomaram os estudos e veem no Enem a chance de construir novas trajetórias e realizar sonhos.

Morador da Maré, zona norte do Rio, Breno Tibiriçá, 27 anos, interrompeu os estudos ainda na adolescência após perder os pais. “Depois que eles faleceram, eu tive que me virar sozinho para muita coisa na vida. Sei que é uma quebra de expectativa eu ter voltado a estudar depois de tudo que passei e vindo de onde eu venho. É uma quebra de estereótipo, mas eu quero fazer isso por mim”, conta. O jovem vai se formar no ensino médio no final desse mês. Ele é um dos alunos da turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola da Fundação Roberto Marinho, no polo da Maré.

Um grupo de dez jovens, nove mulheres e um homem, todos vestindo camisetas cinzas uniformizadas com um pequeno emblema no peito, posam lado a lado em frente a uma parede com cartazes coloridos sobre eventos culturais e o Museu da Vida Fiocruz. O grupo está sorrindo. Muitos estão segurando sacolas de papel marrons nas mãos, provavelmente de brindes ou compras. O jovem no centro se destaca com um gorro e é o único homem do grupo. O cenário sugere um passeio ou visita a um local cultural.
Breno Tibiriçá (no centro) com colegas de turma durante passeio escolar. Foto: Arquivo pessoal.

Para se preparar para o exame, além das aulas regulares na escola, ele também está estudando em um pré-vestibular social. Um dos objetivos é a área de petróleo e gás, mas o coração fica dividido com outra possibilidade profissional: a música. "Meu pai era trompetista e a música me ajudou muito. Acho que mesmo fazendo o Enem e seguindo por outro caminho, a música é algo que eu gostaria de levar comigo”, afirma.

Segundo o jovem, a retomada dos estudos, a formatura e a inscrição no Enem “fazem parte de um movimento de auto resgate”, como ele próprio descreve. Ao avançar nos estudos, a expectativa é de conseguir melhorar suas condições de vida e encontrar um bom trabalho, mas ele diz que já percebe mudanças: "Eu acho que a educação me ajudou a me comunicar melhor, a socializar com outras pessoas, conhecer outros lugares e ampliar meus horizontes".

A trajetória de Antônia Souza, 41 anos, começou a mudar há quatro anos, quando chegou de mudança do Ceará. No Rio de Janeiro, começou a realizar um sonho antigo: voltar a estudar. Na escola da Fundação Roberto Marinho, na turma que funciona em Del Castilho, zona norte da cidade, ela concluiu o ensino fundamental e agora está cada vez mais perto de terminar o ensino médio. “Eu estava com muito medo quando fiz minha matrícula, porque estava há anos sem estudar e não lembrava nada. A professora disse que ela estaria do meu lado, que iria me ajudar e que iriamos estudar juntas”, lembra.

Um casal posando contra um fundo branco e liso. Uma mulher está à direita, vestindo uma beca de formatura preta com estola branca e um capelo. Ela tem cabelos longos e loiros, usa óculos e maquiagem escura nos lábios. Um homem está à esquerda, abraçando-a e sorrindo. Ele veste uma camiseta preta simples e usa óculos. Ambos seguram um diploma enrolado (canudo) de cor azul com a inscrição "Unidade Escolar Fundação Roberto Marinho" em destaque.
A aluna Antônia Sousa com seu esposo durante sessão de fotos da formatura. Foto: Amanda Nunes.

Inscrita no Enem, ela diz viver um momento de muita emoção e expectativa com tudo que está por vir nos próximos dias. “Para mim, fazer o Enem é mais uma vitória, porque eu nunca pensei nisso como uma possibilidade para mim. Eu vou tranquila, vou buscar aprendizado”.

Além das aulas regulares, ela tem estudado por conta própria, priorizando as áreas que sente mais dificuldade. “Tenho mais receio com a redação. Então, estou treinando mais para isso. Mas também assisto videoaulas que as professoras indicam e busco material por conta própria”, explica. Uma das ferramentas utilizadas pela estudante é a plataforma MEC Enem, iniciativa gratuita do Governo Federal. Já as videoaulas fazem parte do catálogo do Canal Futura, também disponíveis gratuitamente.

Filha de pais analfabetos, Antônia precisou interromper os estudos aos 14 anos, quando cursava o sexto ano do ensino fundamental. Ela lembra que, naquela época, a rotina era marcada por dificuldades. O trajeto até a escola levava mais de uma hora a pé, sob o sol forte, e ainda havia a necessidade de trabalhar para ajudar a família. Pouco tempo depois, engravidou, e as responsabilidades acabaram a afastando, cada vez mais, da sala de aula. “O estudo fez muita falta na vida. Para quem não tem ensino médio é difícil encontrar uma oportunidade e sem experiência não dá para ter um bom trabalho”, conclui.

O caminho do Encceja ao Enem

Depois de quase 40 anos afastado dos estudos, a educação voltou de vez à rotina de Claudio Silva, 57 anos. Morador do Complexo do Chapadão, na Pavuna, zona norte do Rio, ele se prepara por conta própria para as provas do Enem. Com orgulho, mostra os cadernos onde anota resumos e exercícios. Ele organiza o próprio cronograma, assiste a videoaulas e segue o conteúdo por meio de uma apostila. Esta será a segunda vez que participa do exame como treineiro — modalidade em que o candidato faz a prova gratuitamente para avaliar o desempenho, sem usar a nota para ingresso no ensino superior.

O Enem, no entanto, não foi a primeira grande prova do ano para Claudio. Em agosto, ele prestou o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), que concede o diploma de ensino fundamental ou médio aos candidatos aprovados. O resultado só sai em dezembro, mas as expectativas são altas. Mais do que concluir o ensino médio, Claudio sonha em seguir adiante e entrar na universidade. “A minha expectativa é tirar uma boa nota e ter mais um aprendizado. Ano que vem eu certamente farei o Enem novamente e, quem sabe, para entrar em uma universidade pública”.

Lado Esquerdo: Uma visão de cima de três páginas de caderno espiral pautado com anotações escritas à mão em caneta azul e preta. Uma caneta azul está sobre a página da esquerda. Vários materiais de escritório, como canetas coloridas, marcadores e post-its, estão espalhados ao redor.  Lado Direito: Uma pilha de livros e materiais de estudo. No topo, está um caderno de exercícios do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) com a inscrição "Provas Anteriores 2020 a 2022". Abaixo, um livro com o título "Filosofia"
Claudio mostra cadernos e livros que usa para se preparar para o Enem. Foto: Arquivo pessoal.

Para se preparar para o Encceja, ele estudou pelo SEJA, um preparatório gratuito e digital desenvolvido pela Fundação Roberto Marinho. Segundo Claudio, o estudo pela plataforma também o ajudou nas provas do vestibular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e para o Enem.

Claudio é pescador, casado e tem três filhos. Ele diz que atravessar esses desafios com mais maturidade pode até gerar algumas inseguranças, mas também traz tranquilidade em alguns aspectos: “Acho que, para quem está começando a jornada, o nervosismo é normal. Eu já não tenho mais essa ansiedade toda. A idade me dá mais tranquilidade e paz para encarar tudo isso sem a pressão de que é o ‘fim do mundo’. Claro que estou me preparando para a prova, mas mantenho a cabeça no lugar: quero dar o meu melhor e evitar cair no desespero”, diz. Para o próximo ano, ele já tem uma meta definida: fazer o Enem novamente e, dessa vez, como candidato a uma vaga no ensino superior.

Se prepare para o Enem

Em sua 3ª temporada, a série ‘Lá vem o Enem’ recebe professores e alunos para falar sobre a preparação para o exame. O programa estreia no Futura no próximo sábado, dia 8, às 18h30. Com dicas, jogos e histórias inspiradoras, a produção traz leveza e motivação às vésperas do Enem.

Lá vem o Enem no Globoplay

Outra produção do Futura focada no exame é a série ‘Descomplicando o Enem’. São 60 episódios curtos, com dicas práticas sobre conteúdos-base de língua portuguesa e matemática. É o material perfeito para relembrar o que foi estudado ou tirar dúvidas rápidas a poucos dias do Enem.

Descomplicando o Enem no Globoplay

Outra dica é a plataforma Co.educa, uma biblioteca digital e multimídia que pode apoiar a pesquisa por assuntos específicos.

Conheça a Co.educa