Notícia: Coletivo feminino de bordadeiras da Praia do Sono é tema de exposição na Casa da Cultura de Paraty

Coletivo feminino de bordadeiras da Praia do Sono é tema de exposição na Casa da Cultura de Paraty

A exposição “Linhas, pontos e contos: a poesia do cotidiano das bordadeiras da Praia do Sono” será inaugurada no dia 11 de julho na Casa da Cultura de Paraty

Bordado vibrante em tecido claro mostra duas canoas coloridas flutuando sobre ondas azuis. Em uma delas, duas pessoas pescam com rede, e na outra, duas pessoas remam. Ao fundo, um grande sol laranja com centro amarelo brilha no céu. Um galho de árvore aparece à esquerda e pequenos pássaros pretos voam ao fundo. A cena representa a pesca artesanal em um dia ensolarado.
Mostra reúne bordados de mulheres caiçaras que retratam a vida simples e poética da comunidade. Foto: Ana Andrade/Divulgação

Uma exposição que celebra a força do feminino na cultura caiçara, a tradição oral e o fazer manual como expressão artística e resistência cultural. A Casa da Cultura de Paraty recebe, entre os dias 11 de julho e 20 de setembro, a exposição “Linhas, Pontos e Contos: A poesia do cotidiano das bordadeiras da Praia do Sono”. A mostra apresenta o trabalho do coletivo Bordadeiras do Sono, formado por mulheres caiçaras que reinventam o bordado como forma de expressão, memória e fortalecimento do território.

Na paisagem idílica da Praia do Sono, comunidade de 600 habitantes a 20 quilômetros de Paraty, onde só se chega por barco ou trilha, elas bordam suas vivências: a paisagem que as cerca, as cenas do dia a dia, as memórias e os modos de vida que tecem, há gerações, a cultura caiçara.

Criado em 2007, o grupo catalisa uma arte ancestral. “Bordar é uma forma de contar o que a gente vive, o que lembra da infância, o que tem à nossa volta. É nossa maneira de dizer: ‘estamos aqui’”, diz Zenir Alvarenga Albino, uma das bordadeiras. Para Nilma da Conceição Albino, o bordado é também terapia. “Quando estou nervosa, pego a agulha e começo a bordar. Parece que tudo acalma. Muda o meu dia.”

Hoje, Bruna, Maria, Lindalva, Rosiane, Daiani, Zenir, Nilma, Claudete, Isabela, Larissa, Letícia, Mariana, Perpétua, compõem o coletivo que se reúne para bordar cenas da vida à beira-mar: homens remendando redes, mulheres preparando peixes, crianças correndo atrás de pipas, bananeiras crescendo rente ao mato, amendoeiras que sombreiam os passos.

Os bordados partem de desenhos do jovem Tiago Alvarenga, filho do Sono e amigo das bordadeiras, traçados no tecido e traduzidos com pontos diversos — cheio, aberto, cruz — em peças únicas que fogem de padrões e ganham contornos intuitivos, livres, sempre poéticos. O tema central é o cotidiano: o que se vê, o que se vive, o que se lembra e o que se sonha.

Bordado colorido sobre fundo azul escuro retrata três pessoas à beira-mar, trabalhando em um barco amarelo. Ao fundo, vê-se o mar azul com ondulações bordadas em linhas, montanhas verdes e um céu com pequenos pontos e cruzes representando estrelas. A imagem transmite uma cena de trabalho coletivo, provavelmente de pesca artesanal. Foto: Ana Andrade/Divulgação
Exposição tem entrada gratuita e fica em cartaz até dia 20 de setembro. Foto: Ana Andrade/Divulgação

A exposição convida o visitante a mergulhar nesse universo com todos os sentidos, em uma montagem multimídia. Há bordados nas paredes e em luminárias que pendem do teto como estrelas, em uma instalação com 20 peças que iluminam o espaço com cor, delicadeza e presença. Há o som da praia, dos ventos, das vozes das bordadeiras em cantos e conversas — que compõem uma paisagem sonora envolvente.

Há imagens nas fotografias de Ana Andrade que captam com sensibilidade o gesto de fiar memórias das mulheres que mantêm viva essa cultura essencialmente feminina. Há um documentário em vídeo que narra o processo criativo e o cotidiano do grupo e há as palavras de voz e afeto do poeta Flávio Araújo, filho da bordadeira Betinha (in memorian), que traz seus poemas para compor a mostra.

“Eu vejo uma conexão profunda entre o bordado e a cultura da pesca”, observa Flávio. “O bordado que minha mãe praticava junto com as mulheres é muito parecido com a forma como os homens entrelaçam a rede de pesca. Enquanto eles costuram a rede, fazem pontos precisos que se assemelham aos detalhes do bordado. Na verdade, ambos representam uma trama comum, uma construção coletiva que inclui homens, mulheres e toda a cultura caiçara.”

Os bordados, que hoje extrapolam os limites da comunidade e ganham molduras em diversos lugares do mundo - levados por turistas – traduzem, afinal, um mapa de afetos, uma narrativa visual e uma declaração de pertencimento ao lugar onde vivem. A mostra “Linhas, Pontos e Contos”, com entrada gratuita, é um convite para conhecer um território costurado por memórias, cores, e gestos femininos –e enxergar, ouvir e sentir a Praia do Sono bordada em histórias.

Três mulheres caminham de costas por uma rua de terra em uma vila, cercadas por árvores e casas coloridas. Elas usam vestidos longos e estampados com cores vibrantes. Uma delas segura uma cesta de palha, e um cachorro aparece ao fundo, entre elas. As casas têm cores vivas, como amarelo e lilás, com janelas e portas de madeira. A cena transmite tranquilidade e conexão com a cultura local.
A mostra apresenta o trabalho do coletivo Bordadeiras do Sono, formado por mulheres caiçaras. Foto: Ana Andrade/Divulgação

Através da Lei Federal de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, a Casa da Cultura de Paraty conta com o patrocínio estratégico do Instituto Cultural Vale, apoio do Grupo Globo, EZZE Seguros, Innova, Farmacêutica EMS, Pousada Literária de Paraty, Fazenda Bananal, Sandi Hotel, apoio institucional da Fundação Roberto Marinho e Prefeitura de Paraty.

Exposição "Linhas, pontos e contos: a poesia do cotidiano das bordadeiras da Praia do Sono"

Casa da Cultura de Paraty

Abertura: 11 de junho, às 18h

De 11 de abril a 20 de setembro de 2025

Entrada Gratuita