Notícia: Festival Negritudes Globo Salvador é marcado por trajetórias potentes e emoção

Festival Negritudes Globo Salvador é marcado por trajetórias potentes e emoção

O Festival Negritudes Globo fez sua estreia em Salvador após edições anteriores no Rio de Janeiro e em São Paulo - e não poderia ser mais emblemático e marcante.

Realizado em parceria com a Rede Bahia, o evento, que tem o objetivo de celebrar e debater as narrativas negras no audiovisual, aconteceu no dia 18 de julho, na Casa Baluarte. O momento inicial do festival ficou a cargo da Banda Olodum, antecipando o que permearia a programação de todo o dia: o público presente, in loco e nas telas do Canal Futura e do Globoplay, recebeu inspiração e potência com a canção "Protesto do Olodum".

Com mediação dos jornalistas Rita Batista e Vanderson Nascimento, o Festival Negritudes Globo Salvador passa a marcar o calendário de eventos da Bahia e do próprio Grupo Globo, e coube a Ronald Pessanha, líder do Negritudes Globo, a fala de abertura do evento: "É uma honra realizar o evento na Bahia. Se a África é o ventre, a Bahia é o berço. E o audiovisual é um caminho importante pra que tudo isso possa acontecer."

Fé e narrativas

Rita Batista de pé, vestida com roupa branca e segurando o microfone.
Rita Batista, responsável pela mediação do Festival Negritudes Globo Salvador, durante abertura do evento. (Foto: Felipe Conrado)

Dando início ao dia de conversas e trocas, Rita Batista convidou Jéssica Ellen, atriz e cantora, Kléber Lucas, pastor evangélico, Ekedy Sinha, ativista e representante do Candomblé, e Padre Lázaro Muniz, capelão da Igreja do Rosário dos Pretos, para uma conversa que partiu de duas questões:

De que forma as nossas crenças interferem nas narrativas negras?

Como podemos retratar nossas diferentes culturas fugindo de estereótipos e deixando nossas tramas únicas e envolventes?

Rita trouxe a perspectiva do Candomblé para começar os diálogos. Para a jornalista, é imprescindível entender o terreiro de Candomblé como um espaço de força e resistência. Ekedy Sinha complementou: "Trata-se de uma organização social prioritariamente familiar. Um espaço de acolhimento, para reforçar a tradição e a nossa história", disse a Ekedy, que sintetizou o papel que esta figura tem no Candomblé: "Uma Ekedy cuida dos filhos dos Orixás. Ela não é só mãe delas e deles: é mãe de todas e todos".

Jéssica Ellen contou como a diversidade religiosa em sua família contribuiu para que ela tivesse contato com diversas maneiras de se lidar com a fé: "Fiquei muito impressionada e feliz quando tornei pública a minha escolha de fé. E isso repercutiu no meu primeiro álbum - Sankofa".

Sob a ótica da partilha de religiosidades, Rita perguntou ao pastor Kléber Lucas como poderão ser os próximos passos de um país que se torna cada vez mais evangélico (Fonte: Pesquisa "Global Religion 2023" - Ipsos).

Kléber reforçou a importância de se reconhecer como um homem preto, antes de qualquer outro elemento que o compõe: "No morro onde eu morava, quando faltava comida na nossa mesa, eram os terreiros que nos alimentavam. Dona Nilsa, a dona do terreiro, era quem cuidava da gente", compartilhou o pastor.

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Meu cristianismo nunca me distanciará da minha história ancestral.


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Padre Lázaro destacou a importância histórica da Irmandade dos homens e mulheres pretos e pretas que representa na luta contra o racismo: "A Irmandade nasce com o objetivo de cuidar. Irmãos e irmãs que se cuidam, se alimentam, se amam.Não é fácil viver neste país sem a compreensão do processo diaspórico", afirma Lázaro.

Narrativas negras: uma infinidade de possibilidades

Com mediação de Zileide Silva, a segunda rodada de encontros e conversas teve início com um referencial importante da própria jornalista:

"Quando comecei minha trajetória profissional, tive uma referência de jornalista negra que via na tela da TV: Glória Maria. Se eu abri espaço para algumas pessoas dentro da profissão que escolhi, é importante ressaltar: a Glória o abriu pra mim".

Em seguida, Zileide contextualiza a escolha pelo termo "Negritudes":

"É Negritudes, no plural, porque somos uma vastidão de modos de viver. Como é rico vivermos em um tempo em que tantas portas da frente estão sendo abertas para que pessoas negras se expressem através das artes. Vamos falar sobre as narrativas negras".

Feitas as devidas contextualizações, Zileide convidou as pessoas que participariam da conversa: Maria Gal, atriz, Maíra Azevedo (a "Tia Má"), atriz e influenciadora, e Alrick Brown, diretor e professor de cinema e tv na Universidade de Nova Iorque.

Maria Gal falou da importância da presença de roteiristas e cinegrafistas negros, pra além do que aparece na frente da câmera:

"Isso faz toda a diferença quando vemos as produções nas telas. Sabermos que somos pessoas representadas ali é maravilhoso. E mais: distantes dos estereótipos", disse a atriz.

Para a "Tia Má", o papel primordial de quem veio antes precisa ser destacada: "Quando não existíamos nos espaços do audiovisual, o senhor Milton Gonçalves estava lá, dirigindo espetáculos; a senhora Ruth de Souza estava lá, atuando". E completou: "Sempre me foi proibido sonhar, por ser uma mulher preta. E hoje eu estou aqui, ao lado destas pessoas".

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Minha existência é fruto da luta das mulheres pretas que vieram antes de mim.


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Zileide perguntou a Brown sobre a experiência dele nos mercados audiovisuais dos Estados Unidos e da África: "Minha perspectiva como norte-americano mostra que nossa luta contra o racismo, do ponto de vista do audiovisual, passa pelo que já foi falado aqui: precisamos estar presentes nas produções dos filmes, em todas as posições que trabalham para que aquela história seja contada".

Para Maria Gal, a diversidade existente no próprio universo de pessoas negras já mostra o quão potente ele é:

"Temos mais de 30 diferentes tons de pele negra no mundo. É muita história rica e diversa que precisa ser contada. E é aí que entra a importância de ocuparmos os espaços".

Quebrando o protocolo, Maíra inverteu os papeis e pediu para Zileide contar um pouco sobre seu início de carreira. A experiente jornalista resumiu, então, sua rica trajetória profissional:

"Eu, que não gostava muito da minha voz, acabei sendo chamada para trabalhar no rádio. Dali, fui convidada para a tv. Pensei imediatamente na Glória Maria, vi que eu era capaz, passei por algumas empresas de telecomunicação e cheguei à Globo", disse Zileide.

Maria Gal aproveitou para compartilhar que está envolvida em um documentário sobre a Pequena África, área da zona portuária da cidade do Rio de Janeiro, e que abriga parte importante da história de diáspora africana no Brasil e nas Américas:

"O propósito é contribuir para o letramento racial da sociedade, trazer nossa memória e nossas histórias, dando mais visibilidade a nomes e lugares do Rio de Janeiro que estão intimamente ligados à chegada dos negros e das negras da África".

Após retornar ao palco para dar início à programação da tarde do Festival Negritudes Globo Salvador, Rita Batista convidou Kellen Julio, diretora de Diversidade e Inovação para o Conteúdo nos Estúdios Globo.

Para Kellen, a importância do Festival Negritudes Globo em Salvador é enorme:

"Estarmos aqui, no estado mais preto do Brasil, é muito simbólico e mexe muito comigo", disse Kellen. "Fiquei pensando sobre minha trajetória profissional, saindo de Realengo (bairropara estar em um cargo de liderança, em uma das maiores empresas de comunicação do mundo. E entendo que nossos pontos em comum, dentre outros, partem das nossas famílias".

Em seguida, falou sobre o novo projeto direcionado à representatividade de pessoas com deficiência, LGBTQIA+ e não-brancas nas telas e fora delas: "Para que tenhamos pessoas pretas, criamos em julho, na Globo, o Programa Trainee Globo, uma ação afirmativa para que tenhamos lideranças negras na casa", anunciou Kellen.

Saiba mais sobre o Trainee Globo

Painel LED: a importância de uma educação antirracista como instrumento de transformação

Para a mediação do Painel LED, Rita convidou Larissa Luz, cantora e apresentadora, que explorou o tema da educação antirracista como um dos mecanismos mais potentes para corrigir o racismo estrutural. Para a conversa, Larissa chamou Bárbara Carine, escritora e idealizadora da Escola Maria Felipa, Monique Evelle, empreendedora, e Gil do Vigor, economista e influenciador.

Quatro pessoas negras sentadas em poltronas sobre um palco. Ao fundo, o nome "Negritudes".
Esq. para a dir.: Larissa Luz, Bárbara Carine, Monique Evelle e Gil do Vigor. (Foto: Lucas Bulhões)

Provocada por Larissa sobre como é ser ponte para incentivar uma educação antirracista, Monique foi direta: "Quando o convite pra eu trabalhar com outros profissionais no jornalismo, focada na educação antirracista, chegou pelo jornalista Caco Barcellos, só caiu a ficha e bateu a emoção quando falei com a minha mãe, já processando melhor o que aquilo viria a ser: eu ter me tornado a nova repórter do Profissão: Repórter com 21 anos", compartilhou Monique.

Bárbara Carine, idealizadora da Escola Maria Felipa, abordou a importância da educação antirracista para as crianças: "Eu não queria que minha filha fosse acorrentada pelos livros de história a um eterno navio negreiro. A Escola surge ali. Toda mãe negra que educa provavelmente pensa assim".

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Conhecimento acumulado é ótimo. Mas quando conseguimos transmitir e auxiliar nas transformações dos outros, na prática, é muito potente.


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Gil do Vigor abordou a importância da educação antirracista e da permanente busca por educação durante toda a vida: "Não estava indo para o Big Brother Brasil em busca de fama. Estava querendo falar mais alto sobre educação, e pra mais gente. E, claro, se pudesse ganhar dinheiro com isso também, seria ótimo".

Neste momento do Festival Negritudes Globo Salvador, Larissa chamou ao palco os vencedores do Prêmio LED 2023, na categoria Educação: Vitalina Silva e Mestre Roxinho.

Vitalina destacou a repercussão por meio do Prêmio:

"Minha experiência com educação antirracista foi vencedora no Prêmio LED, uma vivência de sala de aula que compartilhei com muitas e muitos. E sempre precisamos investir muito na educação, somos todas e todos resultado da educação".

Mestre Roxinho começou sua fala compartilhando um provérbio africano: "É muito importante entendermos que 'o sol caminha devagar para atravessar o mundo'. O Prêmio LED veio pra mim, um mestre de capoeira, o primeiro a ganhar o Prêmio, como uma novidade pra mim e pra muita gente", disse Roxinho. "A capoeira ainda é vista de maneira marginalizada, e reconhecimento como este do Prêmio LED eleva a capoeira a um lugar mais digno, e que seja vista e respeitada".

Saiba mais sobre as edições do Prêmio LED em 2023 e o 2024.

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O Prêmio LED, além da luz, torna-se essa caixa sonora que propaga conhecimento.


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Fale do seu lugar e seja universal

Felipe Velozo, ator e repórter da TV Globo, foi o encarregado da mediação de uma conversa sobre pertencimento. Para isso, convidou Érico Brás, ator, Sulivã Bispo, ator, educador e humorista, e Gabriel Jacome, diretor de Gestão de Conteúdo da Globo.

Sulivã Bispo destacou que compõe seus personagens fazendo as devidas conexões por meio das ancestralidades: "Tudo é pra que a gente possa ver a negritude e a ancestralidade pelo mundo todo".

Para Érico Brás, sua origem baiana lhe permitiu ganhar o mundo através de filmes em que atuou: "A gente, o povo da Bahia, é demais. E a gente precisa trazer o afrofuturismo para o hoje", disse Érico. Que complementa: "O filme 'Ó Paí, Ó' abriu novas perspectivas sobre como podemos mostrar para as pessoas que a Bahia é diferente mesmo".

Felipe Velozo refletiu sobre a importância da sabedoria popular para introduzir Gabriel Jacome e o que o diretor da Globo traz sobre as histórias com referenciais locais: "O ponto de partida é focar no que nos une. Nossos sonhos, nossos traumas, nossos desejos; tudo isso tem uma força incrível, que contribui para atenuar as diferenças e promover uma experiência transformadora".

Narrativas orais como forma de resistência

Quatro pessoas negras estão sentadas em poltronas sobre um palco, diante de uma plateia. Ao fundo, sobre uma parede em tons de marrom-claro, o nome do evento: Negritudes Globo.
Esq. para a dir.: Tarsilla Alvarindo, Valmir Boa Morte, Amaury Lorenzo e Elisa Lucinda. (Foto: Lucas Bulhões)

Valmir destacou a importância da reverência aos mais antigos para se pensar e praticar o agora:

"Por conta das experiências que tive desde criança, entendi que o que sou hoje é resultado da resistência e pela liberdade", refletiu Valmir.

Para Amaury, a história de sua avó é muito importante em sua própria construção como ser humano: "O poder da história dos mais velhos é enorme. E essa força chegou até mim pela contação de histórias da minha avó, pela oralidade, inclusive quando ela faleceu, segurando em minhas mãos e olhando nos meus olhos", compartilhou o ator.

A avó de Elisa Lucinda também foi uma figura central na construção de memórias e experiências que a atriz carrega consigo: "É muito importante que exista o que chamamos hoje de 'literatura oral'. Isso faz parte da intelectualidade do Brasil. Conheci intelectuais interessantíssimos que eram analfabetos".

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Precisamos olhar para a cultura do funk, do rap. É a vitória da palavra, e sem nenhum apoio. É a resistência pela palavra.


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O Festival Negritudes Globo Salvador foi promovido pela Globo, em parceria com a Rede Bahia, com patrocínio da Nívea.

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