Educação tem cor?
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Uma pessoa educada é aquela que tem um determinado nível de estudo formal ou um determinado nível de conhecimento cultural e social adquirido ao longo de sua vivência? Antes de debatermos sobre educação, em especial a educação antirracista, vamos aqui desmembrar o conceito de educação.
A educação formal é aquela desenvolvida nas escolas, com conteúdos previamente determinados. Já a educação informal é aquela que os indivíduos aprendem durante seu processo de socialização, seja em sua família ou em ambientes que ele frequenta, como espaços religiosos, de lazer, etc. Essa educação informal é carregada de valores e cultura própria, de pertencimento e sentimentos herdados. É nesse ponto que quero chegar para falar sobre educação antirracista: a herança educacional.
As diferentes vertentes da educação brasileira, com seus currículos e metodologias, têm uma origem eurocentrada e excludente. Basta ver como surgiu o processo educacional em nosso país, no período do Brasil Colônia, com a chegada dos jesuítas, em 1549. Foram estes religiosos os responsáveis pela instrução e catequização até o ano de 1759, quando Marquês de Pombal os expulsou e implantou as Reformas Pombalinas. O objetivo, a partir daí, era a construção de um modelo de ensino laico, sem vínculo religioso, e público, acessível a todos. Mas quem eram esses todos? O que vemos historicamente é uma educação ensinada por um determinado grupo social, que prioriza determinados grupos sociais, com o propósito de manter seu status quo.
O que de fato aprendemos na escola por muitos anos, mas que agora começa a mudar, foi uma história vista de um ponto de vista eurocêntrico, ensinada por pessoas brancas e com padrões eurocêntricos. Ou seja, que considerava como educação o que era proveniente do continente europeu.
A matemática, a física e todas as ciências exatas nos foram ensinadas a partir da visão de homens brancos e suas grandes teorias matemáticas. Ora, mas não existia matemática no continente africano? Então, como os egípcios construíram pirâmides gigantes? Eles não fizeram um cálculo matemático? Acho difícil, né?
Os saberes e a educação africana sempre existiram, o que aconteceu foi um apagamento e um embranquecimento dos saberes dos povos desse continente. A educação formal brasileira muitas vezes destacou personagens brancos para grandes feitos originalmente negros. A Matemática, como a conhecemos hoje, por exemplo, surgiu no Antigo Egito, por volta de 3500 a.C, mas quem é conhecido como o 'Pai da Matemática' é o filósofo e matemático grego Pitágoras que viveu, aproximadamente, entre 570 a.C. e 496 a.C.
O que eu quero dizer com tudo isso é que nos é ensinada uma história única, onde há uma única versão e uma única verdade. Nessa história que aprendemos, o ocidente, majoritariamente branco, se coloca como universal, modelo de humanidade. Ignorando assim todos os saberes ancestrais, negros e indígenas.
Falar sobre educação antirracista é entender que é preciso ter uma nova perspectiva educacional, que ensine os saberes ancestrais, negros e indígenas, e que não ignore os feitos destes povos. Muitos desses saberes foram e são passados até hoje através da oralidade. Seja nas cantigas das religiões de matriz africana, nas rodas de capoeira ou nos cultos indígenas. Daí a importância da valorização da cultura deste povo. É através da cultura que a educação informal, digamos, se propaga. Isso também é herança. Uma herança ancestral.
Educação antirracista nas escolas é lei
Já passou da hora de aprendermos nos bancos das escolas a história que não nos foi contada, mas que foi, e ainda é, escrita por muitos negros e indígenas. E para isso existem leis.
A Lei 10.639/03 e a 11.645/08 regulamentam o ensino de “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena” na educação básica brasileira. Elas são o principal instrumento de luta contra o racismo dentro do campo educacional que temos hoje no Brasil.
A devida implementação dessas leis nas escolas vai muito além de uma regra, ela projeta nossos jovens negros e indígenas para um futuro onde eles podem, e serão, escritores de suas próprias narrativas. E nossos jovens brancos começam a ter contato com grandes personagens da nossa história tendo assim, em seu imaginário, a concepção de que negros e indígenas também são sujeitos históricos. Eles construíram, e ainda constroem, nossa sociedade, eles podem, e devem, ocupar espaços de poder e tomada de decisão.