Artigo: Campeãs da Superação

No Dia Internacional da Mulher, vamos conhecer as histórias de duas mulheres com deficiência física, que enfrentam os obstáculos do dia a dia, com perseverança e resiliência

No dia 8 de março, celebramos o Dia Internacional da Mulher. A data foi criada em 1910, durante a Segunda Conferência Internacional das mulheres socialistas, realizada em Copenhague, na Dinamarca. A proposta veio da ativista alemã Clara Zetkin, para fortalecer a luta das mulheres por direitos trabalhistas, igualdade de Gênero e direito ao voto. A data foi oficializada pela ONU em 1975, tornando-se referência da luta feminina em diversas áreas da sociedade.

Em nosso país, a causa feminista começou a conquistar espaço no final do século XIX ao colocar a luta pelo direito ao voto como principal objetivo. Um dos marcos iniciais foi a atuação de Nísia Floresta, que era defensora da educação feminina e da igualdade de direitos desde o século XIX. Nos anos de 1920 e 1930, Berha Lutz liderou a Luta Sufragista, movimento que reivindicava o direito das mulheres ao voto e a participação nas questões políticas do pais, conquista essa, que foi alcançada nas eleições de 1932.

Mas, apesar dos avanços, como a conquista dos espaços merecidos que as mulheres ocupam no mercado de trabalho, nos cargos de liderança e na política, será que todas têm voz no cotidiano? Não é bem assim. Ainda temos muito a avançar quando o assunto é, por exemplo, o destaque das mulheres com deficiência na sociedade brasileira.

Segundo uma pesquisa do IBGE de 2023, o Brasil tem pouco mais de 10 milhões de mulheres com algum tipo de deficiência. Desse número, a maioria é negra, está presente no Nordeste, não concluiu toda a escolaridade e sobrevive por meio do trabalho informal. Mas ,mesmo diante de tantos obstáculos, elas seguem em frente, contam suas histórias, realizam seus sonhos e provam que a felicidade não está limitada aos estereótipos e às estatísticas. E nós vamos mostrar isso agora, ao contar um pouco do dia a dia de mulheres com deficiência que fazem da resistência o seu lema.

A luta das mulheres com deficiência

Joana Câmara tem 35 anos e nasceu prematura, com paralisia cerebral e é cadeirante. Formada em jornalismo e apaixonada por música, essa carioca, atualmente moradora da capital paulista, nos conta com leveza e otimismo, quais são os desafios que uma mulher com deficiência, assim como ela, enfrenta diariamente. Joana já fez parte do time de colaboradores da Fundação Roberto Marinho, na área de Educação. 

 Luis Soares: Como foi a sua vida escolar, você sentia muito preconceito, ou foi acolhida pela turma?
Joana Câmara
: A minha vida escolar foi muito tranquila. Até hoje as minhas amigas mais próximas são da escola e da faculdade.

LS: Alguma vez você chegou a se comparar com outras mulheres por causa dos padrões pré-estabelecidos pela sociedade e pelo fato de você ter uma deficiência?
JC
: Claro. Mulher já se compara entre si. Independentemente de ter deficiência. Comigo não é diferente.

LS: E sobre mercado de trabalho, você acha que demorou mais para conseguir um emprego?
JC
: Não, meu processo no mercado de trabalho foi bem interessante. Comecei estagiando e depois fui efetivada. Hoje sou autônoma e escrevo para sites, blogs e outras mídias digitais.

LS: No que diz respeito a relacionamentos amorosos, por ter uma deficiência, você acha que trilhou um caminho mais difícil nessa questão?
JC
: Acho que não. Tanto que hoje estou muito bem casada. Sempre tive uma autoconfiança muito grande e acho que, de qualquer maneira, tem uma questão social de cobrança que ainda afeta muito mais a mulher com ou sem deficiência.

LS: Qual foi o pior preconceito que você já sofreu?
JC
: Acho que os piores tipos de preconceito são os não verbalizados, como olhares.

LS: Que mensagem você gostaria de deixar para as mulheres com deficiência, que ainda não se sentem preparadas para enfrentar os desafios que isso possa trazer?
JC
: Autoconhecimento. Só assim é possível estarmos minimamente preparadas para viver. O processo é longo e constante, mas eu garanto: é gratificante!

Agora vamos conhecer a história de Socorro Gonçalves. Ela tem 65 anos, é mineira e, desde 1997, mora na Flórida, nos Estados Unidos. Diferentemente de Joana, ela não conviveu com a deficiência desde que nasceu, mas um fato mudou a sua vida quando ela ainda era pequena.

Luis Soares: O que aconteceu exatamente, o que fez com que você se tornasse uma pessoa com deficiência?

Socorro Gonçalves: Quando eu tinha oito anos, eu tive uma infecção no apêndice e por alguma razão, o médico que me operou, mexeu em um nervo da minha perna e eu passei a ter dificuldade de andar, desde então”.

LS: O processo para você lidar com essa mudança foi muito difícil?
SG
: Quando eu era criança, eu lidava muito bem com essa questão. Tinha amigos que me adoravam e nunca sofri preconceito. Agora que estou mais velha e tendo que usar bengala, porque tenho dores nas pernas, a situação pesou e está me incomodando mais do que quando adquiri a deficiência.

LS: Como mulher, em particular, a sua deficiência te atingiu de que maneira?
SG
: Quando eu era jovem, não me atingia, porque eu tinha toda uma vitalidade, eu saía, eu namorava, eu fazia tudo. Hoje que estou mais velha, eu sinto as limitações que a minha situação me trouxe. Por exemplo: eu adoro pegar criança no colo, porque eu fui babá e agora eu não consigo mais.  Então, com o peso da idade, isso está me atingindo mais sim.

LS: Você sente que nos Estados Unidos existe um apoio maior para as suas necessidades? 
SG:
 Sim, dão todo o apoio. Seja em show, teatro, cinema, tudo aqui é adaptado para as pessoas com deficiência. Além disso, eu tenho o melhor plano de saúde e o Estado me forneceu uma cadeira de rodas motorizada, que me ajuda a me locomover para todos os lugares. Outro ponto que eu queria destacar, é que a firma onde eu trabalho como gerente, também é bastante acessível e eu me sinto muito acolhida. Não existe país melhor para uma pessoa com deficiência morar do que nos Estados Unidos, somos muito respeitados aqui.

LS: Que conselho você daria para uma mulher com deficiência?
SG
: Que ela saia, que ela não se prenda, que ela não tenha vergonha dela. Eu sei que saí no Brasil, a realidade é muito diferente na questão da acessibilidade, mas se a mulher tiver força de vontade e determinação, mesmo com deficiência, ela pode ser e fazer o que quiser.

Como vimos, independentemente de qualquer questão ou característica, elas podem e conseguem tudo! Viva as mulheres com deficiência! Viva o Dia Internacional da Mulher!

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