“Envolvemos a comunidade e, ao invés de esperarmos ações do governo, recuperamos a biblioteca da nossa escola”
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O 3º Webinário Juventudes Online aconteceu no dia 31 de julho de 2020 assumindo uma missão urgente e importantíssima: dar voz a jovens potentes e ativistas de todo o Brasil para, juntos, refletirem sobre como as juventudes estão lidando com os efeitos da pandemia. Diante deste cenário, debateram acerca dos desafios na luta pelo direito à Educação. Demais, né?
A discussão partiu dos resultados de 2 pesquisas: Juventudes, Educação e Projeto de Vida, desenvolvida pela Fundação Roberto Marinho, e Juventudes e a Pandemia do Coronavírus, desenvolvida pelo CONJUVE, em parceria com a Fundação Roberto Marinho e demais correalizadores.
Assista ao 3º Webinário Juventudes Online

3º Webinário Juventudes Online – Saiba como foi!
Bernardo Menezes, editor e apresentador do Futura, mais uma vez assumiu a mediação do debate e não perdeu tempo: puxou a conversa com Elias Costa, para que ele falasse sobre sua participação como consultor na pesquisa Juventudes, Educação e Projeto de Vida e em que medida aquilo havia mudado sua percepção sobre a realidade atual. Elias não hesitou: “Não tive educação no sistema formal. Repeti muito, sempre saí e voltei várias vezes. Hoje, tenho muito mais clareza ao enxergar a Educação como uma ferramenta de evolução, de progresso”.
Não por acaso, as consequências das escolas fechadas nortearam, em seguida, as reflexões de Roberto Silva: “Estamos nos organizando pra tentar minimizar esses impactos, sempre em rede, de forma intersetorial, buscando fortalecer o debate e minimizar a evasão escolar”. A quantidade de estudantes que abandonarão as escolas estará intimamente ligada às dificuldades de se manter a rotina de estudos em casa, ainda mais quando se trata da população de renda mais baixa, com menos condições financeiras para adquirirem os necessários dispositivos eletrônicos e a conexão com a internet. Taciane Campos contou como tem acontecido na sua casa: “As maiores dificuldades são para estabelecermos os horários de cada atividade. Usamos a tecnologia o tempo todo, pra mantermos o diálogo com estudantes e os pais e as mães”.
“A casa se tornou um ambiente confuso: é um lugar de descanso, mas virou um espaço escolar”
João Victor, que tem organizado ações pra conseguir álcool gel para pessoas carentes, focou sua fala na população negra e nos mais carentes, ao afirmar que “os estudantes pretos e pobres da universidade não terão opção senão trancar o curso”. Lilian Carla, que é professora da rede pública de Pernambuco, trouxe mais reflexões, dando conta também da realidade complexa para a população LGBTI+: “A escola faz muita falta por ser uma rede de afetos que não tem estado à disposição. Quais projetos de vida incluem os corpos LGBTI+?”.
Outro enorme desafio para a Educação neste momento de pandemia é o que encara a população rural do Brasil. Para Felícia Panta, apesar de o êxodo de jovens do campo para o meio urbano ter diminuído, a realidade de pais e mães que sequer concluíram o Ensino Médio ainda predomina. Em meio a essa conjuntura, por si só, complexa, a barreira tecnológica se mostra, mais uma vez, um dos maiores desafios a serem ultrapassados: “Os estudantes foram lançados em uma forma de ensino em meio digital, mas que esbarra num problema primordial, especialmente no meio rural: a falta de acesso”.
“Queremos uma educação que atenda às nossas demandas quilombolas, entrelaçando-as com a educação formal”
A situação da Educação de Jovens e Adultos (EJA) neste contexto de isolamento social, sem escolas, foi o mote da provocação de Bernardo para Ione Barboza, que trouxe detalhes de como tem sido em sua região: “Uns não têm acesso. Outros têm, mas não sabem utilizar os aparelhos”. E foi além: “Eu mesma tenho me esforçado muito pra não perder as aulas. Tenho um irmão no Ensino Fundamental e uma irmã que está aprendendo a ler”.
Micele da Silva compartilhou com todas e todos o enorme esforço da população quilombola para conseguir acesso a educação, inclusive na graduação: “A luta contra o coronavírus é apenas uma de nossas tantas lutas. Enfrentamos, por exemplo, as mais variadas formas de racismo, também na universidade”. Jean Carlo retratou o que sua comunidade quilombola ribeirinha tem enfrentado em Rondônia: “Mais de 25 professores já passaram por aqui e não ficaram, porque a realidade é muito específica e difícil mesmo pra quem é de fora”.
“Todos os estudantes se ajudam. Quem conta com sinal melhor de internet ajuda o outro que não tem acesso”
Conheça as/os participantes

Elias Costa é de Ananindeua, no Pará. Ativista, artista e empreendedor em transformações e comunicação. É membro do Coletivo Tela Firme, co-fundador da Plantar Fotografia e Embaixador da Juventude pela ONU/UNODC. Na Fundação Roberto Marinho participou do Diz aí Amazônida e foi consultor da pesquisa Jovens, Educação e Projeto de vida.

Roberto Silva é de Maceió, Alagoas. Graduando em Psicologia, atua como educador social no Centro de Referência da Assistência Social – CRAS. Atento ao monitoramento de políticas públicas no âmbito da educação e segurança pública, participou da rede de adolescentes da Plataforma dos Centros Urbanos de Maceió, iniciativa do UNICEF em parceria com a prefeitura de Maceió.

Taciane Campos Rodrigues é de Salvador, Bahia. Mulher, preta, moradora de periferia, representante e educadora da REPROTAI-Rede de Protagonista em Ação de Itapagipe, poetisa e atriz amadora, participou das atividades dos projetos Maleta Juventudes e Diz Aí Afro Indígena, do Futura.

João Victor Pereira é de Foz do Iguaçu, no Paraná. Graduando em Direito na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, está em plena construção de seu trabalho de conclusão de curso “Acesso ao Ensino Superior como direito fundamental: A política de cotas raciais nas universidades estaduais”. É organizador do coletivo Fronteira Preta, que visa a integração da população preta da fronteira com a Argentina e o Paraguai.

Lilian Carla é de Recife, Pernambuco. Historiadora e mestranda em Educação, Culturas e Identidades pela FUNDAJ/UFRPE. Professora da rede pública estadual, tem feito da educação seu campo de luta contra as normalizações que atingem corpos de gêneros e sexualidades dissidentes.

Felícia Panta é de Triunfo, em Pernambuco. Graduanda em Bacharelado em Ciências Biológicas e agricultora agroecológica, é integrante do coletivo Comissão de jovens Multiplicadores da agroecologia e militante dos movimentos em defesa da juventude.

Ione Barboza é de Vertentes, em Pernambuco. Poetisa e estudante do EJA médio, escreveu um e-book sobre poesias que já foi publicado.

Micele do Espírito Santo da Silva é da Comunidade de Igarapé-preto, no Pará. Nascida na comunidade quilombola, é graduanda na Universidade Federal do Pará pelo processo seletivo especial para indígenas e quilombolas.

Jean Carlos Sena é de Costa Marques, em Rondônia. Professor na escola do quilombo de Pedras Negras do Guaporé, onde foi criado, mestrando em Direitos humanos e Desenvolvimento da Justiça pela Escola de Magistrados do Estado de Rondônia – EMERON em parceria com a UNIR.