O que vem depois de incluir?
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Incluir para transformar
O que vem depois de incluir? Em agosto, fez 10 anos que a Lei 12.711/2012, conhecida como “Lei de cotas”, entrou em vigor. De lá pra cá, muitos tabus caíram, mas o nível das universidades não caiu: os alunos cotistas conseguiram seguir nos cursos e ter notas competitivas com os alunos não-cotistas.
Para mim, além do resultado óbvio que é a redução da desigualdade e da possibilidade de construção de um futuro, temos o ganho da discussão social sobre o lugar desses corpos na sociedade. O debate sobre ocupação dos espaços foi além dos muros das universidades ou do Planalto Central. Hoje, as ações afirmativas estão presentes em inúmeros lugares e é reconhecida a responsabilidade coletiva para a construção de uma sociedade mais justa e democrática.
Segundo levantamento realizado pelo Consórcio de Acompanhamento das Ações Afirmativas, 71% dos estudos realizados sobre o tema indicam que a política de incluir é um sucesso. Para mim, é indiscutível que os ganhos de uma universidade mais preta são imensos, pois é como se recuperássemos a caneta e o papel que nos foi surrupiado lá trás - me assusta, inclusive, quem, nesses 10 anos, ainda não conseguiu entender isso. Voltamos a contar e, acima de tudo, a escrever as nossas histórias, dando espaço para que outras narrativas se criem.
Acredito que ainda temos uma longa jornada sobre o tema de políticas com foco em diversidade e inclusão. Acho que o novo desafio que se apresenta a todos nós fala sobre “pertencimento”. A gente chegou e mudou a cara das universidades e das empresas, mas agora precisamos que o fosso que muitas vezes se abre nesses espaços antes ocupados apenas pela elite seja minimizado.
Precisamos criar “pertencimento” como um terceiro pilar na cadeia de diversidade e inclusão. Hoje, sinto que algumas políticas são focadas em recrutar e incluir, mas como se o processo de inclusão fosse algo passivo, onde apenas o “diferente” precisa ser incluído, quando na verdade esse processo é coletivo. Precisamos deixar de ignorar a bagagem e o histórico social que aquela pessoa traz e perceber que talvez seja naquela suposta falta que se faz toda a potência daquela pessoa.
É um exercício de deixar a arrogância de lado e se permitir ouvir. É mais do que ser antirracista; é ser escuta.
Eu acredito no poder de mudança que políticas como essa trazem, e como é importante mantermos e aprofundarmos essas discussões. Transformar sociedades é um trabalho coletivo que leva tempo. Se você ainda não aprendeu isso durante esses 10 anos, eu peço que você faça um exercício de alongamento de olhar e tente enxergar para além do seu círculo. Peço que você mude o seu jornal preferido, leia novos livros e busque sair da sua bolha, pois, por mais que você resista, a gente não vai parar de mudar a história.