Notícia: Racismo ambiental e suas implicações para a população negra

Racismo ambiental e suas implicações para a população negra

Estudo mostra percepção de jovens negros sobre as mudanças climáticas

A pesquisa JUMA (Juventudes, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas) foi desenvolvida para incentivar a apropriação das pautas climáticas pelas juventudes, bem como contribuir com a recuperação sustentável no período pós-pandemia, ampliação da consciência social sobre as questões climáticas e engajar os jovens no debate sobre as alterações climáticas e seu impacto.

Os resultados da JUMA mostram que é preciso chacoalhar a forma de atuar com pauta ambiental para que todos sejam incluídos. A escuta com 5.150 jovens de todos os biomas brasileiros mostra que as juventudes desejam colaborar com o debate, uma vez que também são impactados pela crise climática que nos atravessa.

Considerando que vivem nos territórios onde as transformações ambientais são mais sentidas, muitos jovens ainda não conseguem perceber essa relação. Tendo em vista que algumas populações são ainda mais impactadas por esses desafios, trazemos a percepção de jovens negros sobre as mudanças climáticas e como afetam seu dia a dia.

Dos diversos conceitos relacionados à pauta ambiental e climática, a pesquisa buscou compreender o quanto esses conceitos são de fato conhecidos pelas juventudes brasileiras. O que se nota, a partir de um recorte racial, é que há uma diferença de familiaridade com termos mais específicos do campo:

Um gráfico sobre a familiaridade de jovens negros com termos relacionados à pauta ambiental

Jovens que negros parecem ter menor acesso a informações sobre essa pauta em geral. Quando perguntados sobre o termo racismo ambiental, jovens de todos os biomas e raças desconhecem o significado desse conceito.

O que é racismo ambiental?

A expressão foi criada na década de 1980 por Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr. (químico, reverendo e liderança do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos), durante os protestos contra a criação de depósitos de resíduos tóxicos no condado de Warren, Carolina do Norte, território onde a maior parte da população era negra.

Marcelo Rocha, cofundador do Instituto Ayíka, conta que Chavis traz essa ideia como uma proposta de ativismo, “para falar que se a cidade coloca as indústrias e a maior emissão de gases perto das periferias, se os lixões e os grandes descartes ficam nesses lugares, isso automaticamente vai afetar parte da população que está ali, de uma forma diferente do restante da sociedade. Assim como as ondas de calor, como todo o contexto que cerca as mudanças climáticas”.

Fala de Marcelo Rocha, cofundador do Instituto Ayíka, sobre racismo ambiental

No Brasil, famílias de baixa renda habitam regiões com infraestrutura precária e ausência de suporte ambiental, espaços onde encontramos muitas pessoas pretas e pardas, além de famílias chefiadas por mulheres.

“O Brasil é um país que tem um processo de favelização, especialmente parte da população preta durante o período após a Guerra de Canudos, quando essas pessoas voltam para o Rio de Janeiro no final da guerra. São prometidas terras para esses ex-escravizados, mas quando eles voltam não têm direito à terra. Assim nasce o primeiro morro que vai ter o nome de favela por causa de uma vegetação nativa de Canudos chamada faveleira. Desse modo, temos isso muito evidente, no Brasil o racismo ambiental pode ser notado a partir de como se constrói o descarte do lixo, o acesso a saneamento básico, água e segurança alimentar. Esses elementos fazem parte do processo de clima do nosso país e são muito mais evidentes nas regiões de periferias que são predominantemente áreas ocupadas por pretos e pardos, população negra no geral.”, explica Marcelo Rocha.

O racismo ambiental e as mudanças climáticas

Territórios urbanos e meio ambiente não devem ser lidos como rivais, já que espaços urbanos estão inseridos em ecossistemas, ainda que transformados pela intervenção humana. Portanto, a maneira como planejamos e transformamos o território, como interagimos e transitamos por ele pode impactar mais ou menos o meio ambiente. Lembrando que essas intervenções afetam a vida das pessoas que vivem nesses locais, de forma desigual, principalmente, grupos em situação de vulnerabilidade social como negros, indígenas, moradores de periferias, mães solos etc.

Fala de uma jovem de Belo Horizonte sobre a pauta ambiental

Portanto, quando pensamos na temática das mudanças ambientais para pessoas periféricas, essa questão precisa considerar sua realidade, já que residem nos territórios mais vulneráveis, seja pela falta de saneamento básico, pelo maior risco de enchentes.

Vamos falar sobre isso?

Quando jovens compreendem os impactos do racismo ambiental em suas vivências, mudam a maneira como enxergam seu território, uma vez que muitas questões que a afetam sua existência estão relacionadas com o problema.

Precisamos estourar a bolha, para que mudanças climáticas sejam pauta que todos dominam, e desenvolver um discurso que faça sentido para quem vive em territórios periféricos. Pois, se a sobrevivência é o básico de indivíduos desse contexto social, como inserir a preservação ambiental em seu dia a dia?

Fala de uma jovem da série "A Política é Nossa - Meio Ambiente"

A pesquisa JUMA será lançada durante a COP27 no Egito. Para visualizar o flyer que será apresentado em Sharm el-Sheikh durante as ações da COP27, clique aqui.

JUMA é uma realização Em Movimento com a Rede Conhecimento Social, Engajamundo, Instituto Ayíka e GT de Juventudes de Uma Concertação pela Amazônia.

Sobre a Rede Conhecimento Social

Fundada em 2016, a Rede Conhecimento Social é uma associação sem fins lucrativos, constituída como spin off do Instituto Paulo Montenegro, organização criada em 2000 pelas empresas associadas ao Grupo IBOPE, trazendo em seu DNA a expertise de colocar a serviço da sociedade o uso de pesquisas para fins sociais.

A missão da Rede Conhecimento Social é promover a construção participativa de conhecimento, estimulando e conectando pessoas, grupos, organizações e seus saberes, para gerar mobilização e transformação social. Seu objetivo é juntar variadas formas de construção de conhecimento a diversas formas de colaboração e compartilhamento de saberes.

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