Artigo: A Potência do Empreendedorismo Social das Juventudes

A Potência do Empreendedorismo Social das Juventudes

Artigo escrito por Carolina B. Lindquist, jovem Transformadora Ashoka, estudante de Ciências Sociais na Universidade de Harvard e co-fundadora do Globalizando, e Pedro Borges, ativista pela preservação de línguas indígenas, estudante de Línguistica e Ciência da Computação na Universidade de Swarthmore e co-diretor do Globalizando.

Aprender idiomas e desfrutar da autonomia que uma língua estrangeira proporciona foi por muito tempo exclusividade das elites. Mas num mundo tão conectado, a proficiência em outros idiomas não deve ser um privilégio de poucos. Tem que ser direito de todos. Afinal, como você vai cantar as músicas do BTS sem aprender coreano ou colocar “inglês intermediário" no currículo se sentindo confiante? Para enfrentar este e outros problemas sociais, a energia da juventude, alinhada ao propósito de transformação, pode ser um dos mais efetivos agentes de mudança. Uma organização fundada e liderada por jovens, contrariando os valores da hierarquia tradicional, pode ensinar muito sobre empreendedorismo social.

Liderado por jovens que reconheceram desde cedo seu poder de mudança, o Globalizando é uma ONG que promove, desde 2019, o ensino de idiomas acessível, transformador e de qualidade para brasileiros de baixa renda. A organização é o resultado da visão de estudantes que identificaram no empreendedorismo social uma ferramenta para intervir em pautas educacionais pouco presentes no debate e nas políticas públicas no Brasil.

Ao invés de reproduzir o senso comum de que a educação tradicional é a melhor forma de aprender, preferimos buscar, na prática, respostas para as seguintes perguntas: como seria um aprendizado de idiomas transformador e de qualidade? E como brasileiros de baixa renda podem ter acesso gratuito a ele? Em três anos, alcançamos mais de mil brasileiros que viram no estudo de línguas estrangeiras o meio para atingir seus maiores sonhos. Também capacitamos mais de 500 voluntários que proporcionaram este ensino inovador, através de um método baseado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, para pessoas de baixa renda em todas as regiões do Brasil. O Globalizando manifesta nossa melhor resposta a essas perguntas.

Mas mesmo com muita vontade e energia para mudar o Brasil através de um projeto social, falta muito para que jovens, que querem protagonizar mudanças em suas vidas e comunidades, possam alcançar seu pleno potencial. O cantor e compositor Chorão estava certo quando disse que “o jovem no Brasil nunca é levado a sério”. Os projetos sociais liderados pelas juventudes, principalmente juventudes marginalizadas, carecem de apoio e recursos. Aprendemos no caminho, porém, que uma das principais dificuldades é que um projeto social não vem com uma receita de bolo.

Não aprendemos empreendedorismo social nas escolas, nem várias das habilidades necessárias para fazer um projeto na escala do Globalizando acontecer. Como recrutar e gerir voluntários? Como usar o poder das redes sociais para amplificar a causa e a iniciativa? Como definir uma estratégia de longo prazo alinhada a um plano de ação? Como fazer tudo isso e muito mais sem um adulto ditando as regras? Essas são algumas das questões com que nos deparamos cotidianamente e tivemos que aprender sozinhos a lidar com elas. Ao mesmo tempo, foram esses desafios que mais nos trouxeram aprendizados. No processo de fundar e gerir uma organização de impacto social, totalmente liderada por jovens, tivemos que criar nosso próprio passo a passo! E essa é a parte mais divertida — construir projetos que acreditem no conhecimento, potencial, capacidade de aprender (e na sabedoria, por que não?) das juventudes, reconhecendo seu (nosso!) poder de ação e de impacto nas comunidades com as quais interagimos.

Após três anos na direção do Globalizando, chegou o momento para o qual também não existe nenhum manual de instruções ou recomendações: a transição de liderança. Este deve ser um momento natural em organizações com cultura democrática e que proporcionam autonomia para todas as pessoas que com elas contribuem. A mudança na direção da organização representa nosso compromisso com o futuro do nosso impacto, construído colaborativamente e liderado pelas juventudes. A transição de liderança é consequência da construção diária e coletiva de uma organização em que a causa importa mais que o cargo; em que a colaboração vence o individualismo; em que a sustentabilidade da organização é tão importante quanto a mudança causada no presente. A liderança muda, mas o sonho de construir condições para que brasileiros se reconheçam e atuem como agentes de mudança permanece, porque foi até aqui compartilhado por centenas de voluntários conosco.

A jornada dos últimos três anos foi uma montanha russa de emoções e aprendizados. Chegamos até aqui com sonhos que às vezes pareciam improváveis, mas com muita gente acreditando na democratização de um ensino de idiomas de qualidade e transformador no Brasil. Mais do que isso, com a confiança de que a juventude é capaz de exercer seu poder de transformação praticando desde cedo o empreendedorismo social.

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