Artigo: O futuro das bibliotecas não é só digital

O futuro das bibliotecas não é só digital

O conhecimento transforma. A gente já ouviu essa frase em diferentes contextos, formas e com diferentes propósitos. E claro, como uma dessas pílulas de sabedoria ditas repetidamente e que em algum momento deixa de ter aquele pode de “frase de efeito”, ela não deixa de carregar uma mensagem muito importante: o papel transformador do conhecimento é imenso. Quem vive sabe, o conhecimento não só transforma, ele também cria, destrói e reconstrói a todo tempo e abre caminhos. Conhecer é viver em muitas possibilidades.

Agora, para além desse potencial que existe no saber em si, existe outro aspecto fundamental e um pouco menos popular no imaginário coletivo que é: como o conhecimento se transforma? De que forma nossos saberes e nossos acessos ao que já se conhece foram sendo transformados ao longo do tempo?

Um bom ponto de partida talvez seja entender um pouco mais sobre o local físico que consideramos o lar do conhecimento e que foi durante muito tempo um ponto de referência para quem precisava de novos saberes: a biblioteca. Democratizar o acesso a bibliotecas, e consequentemente o conhecimento, foi um longo processo. Assim como evoluíram os livros, evoluiu também o conceito da uma biblioteca – de um espaço de acesso exclusivo para membros da igreja até um local público pensado para ser utilizado por toda a população.

Mas em plena era digital…quem ainda vai na biblioteca? Talvez essa seja a pergunta que surge naturalmente quando sabemos que atualmente o acesso à informação está literalmente na palma da mão. Vamos então à reposta para essa pergunta: uma análise realizada em 2020 pela Organização Social de Cultura afirma que 34 milhões de pessoas frequentam bibliotecas no Brasil, um número relativamente baixo em um país com 214 milhões de pessoas, mas que possui somente 6.057 bibliotecas públicas – uma para cada 30 mil habitantes. Cinquenta e dois por cento desse público são mulheres, e quase metade (49%) dessas pessoas pertencem à classe C, e… contrariando algumas expectativas, 68% desse público tem até 30 anos idade. A principal motivação de 51% dessas pessoas para ir à biblioteca é ler livros para pesquisar ou estudar, enquanto 33% buscam leituras por prazer.

A biblioteca ainda é um espaço importante de acesso ao conhecimento. E claro, por conta de sua evolução e da transformação da sua função em um espaço público de promoção de saberes ela ainda permanece um meio mais democrático que a internet, principalmente em um país em que apenas 49,4 milhões de pessoas conseguem se manter plenamente conectadas durante todo o mês.

Levantando novamente o ponto que trouxemos lá em cima, o conhecimento transforma, ao mesmo tempo em que precisa, ele mesmo se transformar para continuar exercendo seu papel de mudança. E sob essa perspectiva, talvez o que a gente precise seja não somente que as pessoas tenham mais acessos a bibliotecas, mas que elas tenham acessos a novas formas de vivenciar as bibliotecas.

Essa mudança não passa somente pela tecnologia. Modernizar a forma como acessamos informações já é algo que acontece fora desse ambiente, e até mesmo dentro dele através de processos de automação e digitalização em bibliotecas. A questão aqui é como transformar o formato, e não apenas o meio.

Precisamos reconhecer que todo conhecimento em todas as suas formas carregam o mesmo potencial. Livros e pessoas ensinam como experiências, diálogos ou outras formas de trocas, e que tudo isso cabe em uma biblioteca. Quando consideramos seres humanos como acervos vivos e detentores de saberes que muitas vezes não chegam às páginas de um livro, passamos a pensar não só em como democratizar o acesso ao conhecimento, mas como podemos democratizar o acesso à produção de conhecimento. E nesse processo, transformamos biblioteca em um espaço dinâmico, em constante transformação e que contempla as diversas formas do aprender.

A Biblioteca do Futuro é um projeto criado pela Futuros Inclusivos que irá transformar a biblioteca da Enap em um espaço de inovação e construção colaborativa de conhecimento. O objetivo é justamente valorizar as várias formas do saber e fazer com que bibliotecas trabalhem todo o seu potencial não só de geração de conhecimento, mas também de troca e de transformação de jornadas.

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